segunda-feira, 6 de julho de 2009

CONFRARIA DA LEITURA

Inspiração poética sobre o conto “AMOR”,de Clarice Lispector

AMOR

Ana em minha mãe
Ana em minhas mãos
Ana sem afeto e sem açúcar
Ana órfã de si mesma
Ana do amor imperfeito
Ana imperfeita
Ana, o medo de amar.

Forja o destino
Sua máscara a cega
Não se vê no espelho mutilado
Encalacra-se qual um caracol
O cego a chama:
-Ana! Estou aqui, ali, acolá
O seu jardim precisa ser adubado.

Ana perdida em suas aflições
As plantas não riem mais!
A teia do seu bordado
Se desfaz, ponto a ponto
Emergindo o turbilhão, o caos
Perdendo o ponto do seu destino
O novelo vira um emaranhado de fios
A serem desatados
A cada nó, uma farpa a ser removida
Incrustada sob a derme e com a pinça
Puxa-se a dor, lenta, ruminante
O alívio que não chega.
René Wagner – em 10/7/09




Comentários sobre o Conto “AMOR”, de Clarice Lispector
Para: Confraria da Leitura


No meio do caminho tinha um cego.
Tinha um cego no meio do caminho de Ana.

Casada e com filhos, Ana tinha a vida bem ajeitada, quase que confortável, não fosse aquelas tardes, quando se flagrava em abandono, depois de cumprir suas tarefas domésticas. Era um momento perigoso e perturbador, mas ela administrava esta intranqüilidade indo às compras, levando objetos para consertos...e, voltando à casa quando todos já estariam retornando também.

Era uma mãe zelosa e dava a sua corrente de vida a cada um.
Ocupar-se todos os dias com o mesmo serviço, era a paz para a sua alma.

E num dia comum como qualquer outro de sua vida, ela volta pra casa com ovos para um jantar especial, que fará aos familiares. No mesmo pacote, traz o seu tricô.

No bonde, ela senta-se num banco próximo à janela e se encosta, sentindo uma certa satisfação por isto.
Mas, de repente ela enxerga um cego na rua: parado num ponto, ele estende a mão “no nada do mundo”, e, mascando chiclete, parece sorrir e deixar de sorrir, em ação contínua.

Ana fica visivelmente perturbada, pois olhou para o cego com profundidade.

Enquanto experimenta esta sensação estranha de ver o cego, embora já tivesse visto tantos outros cegos, o bonde arranca, bruscamente. Seu pacote de ovos com a rede que tecia vão para o chão, fora de seu alcance.

Ana grita, e, isto causa estranheza e riso a todos, afinal por tão pouco: quase um escândalo.

As gemas, dos ovos desfeitos, mancham a trama de seu tricô, assim como ela sentia, ao olhar o cego, manchar a trama de sua vida.
Um espanto aturdido invade sua alma. E ela até perde o ponto onde deveria descer, descendo perto do Jardim Botânico.
E mesmo adentrando naquele paraíso terrestre, o assombro não se desfaz.
Definitivamente, depois da visão do cego Ana não seria mais a mesma.
Passou um bom período naquele jardim e lá, constatou que a moral da Natureza era outra e que “o mundo era tão rico que apodrecia”. Ali também, pôde “adormecer dentro de si”, e, então, acordar para enfrentar o susto e a náusea por constatar a falta de compaixão que os mais fortes têm pelos seus semelhantes.
Foi um tempo necessário.
Ana volta para o seu cotidiano seguro, onde quase tudo é previsível. Mas, é outra pessoa, tem agora uma nova visão e sente sua vida como um “modo moralmente louco de viver”.

Será que sua vida de mãe e esposa dedicada continuará a mesma?
O conto termina com Ana no aconchego do seu lar, experimentando o afeto de seu marido que até então, desconhecia.
Antes, Ana tinha total domínio de sua casa, das pessoas, dos móveis, e já estava até acostumada com o defeito de seu fogão, que dava estouros. Porém, depois da visão do cego, até o estouro do fogão, que lhe era tão familiar, agora lhe assusta. Nada mais é como antes, nem mesmo os móveis do seu lar...
Passa a prestar atenção em tudo.
E é como se dissesse a si mesma, parafraseando o poeta, que “nunca se esqueceria daquele acontecimento na vida de suas retinas tão fatigadas...”

Neste conto, que de início parece ser tão banal e falar de algo tão corriqueiro na vida de uma mulher comum, percebo a força que a arte de escrever de Clarice Lispector traz para a nossa consciência, instigando-nos a pensar não só nas tarefas repetitivas, que desempenhamos no dia-a-dia, mas especialmente, a relação que estipulamos com elas, e, o que fazemos para alargar a nossa visão de mundo, partindo do que ele, o mundo, nos coloca, cotidianamente.
Quais são os “cegos” que encontramos na nossa vida?
O que olhamos com profundidade?
E será que não somos como estes “fortes” que não têm a menor piedade pelo outro, motivo do nojo de Ana, no Conto?
O que, de fato, amamos e como amamos?
Sentimos a náusea?
Penso que é necessário também perdermos nosso ponto de Descida Obrigatória e adentrar num Jardim Botânico, de modo que até o porteiro nos esqueça lá dentro, como foi com ela.
De: Rita Marques - em 07/ 7 / 09.


O texto “Amor” – Clarice Lispector, sugere inúmeras reflexões a cada parágrafo “percorrido”. O bonde vacilando nos trilhos, nos remete há décadas passadas, porém, as crises vividas por Ana – personagem principal, serão sempre atuais, inerentes aos sentimentos humanos e suas escolhas.

Ana, com seu suspiro de meia-satisfação, escolheu seu caminho, construiu uma vida segura suplantando uma íntima desordem interior. Dona de casa, mãe, esposa, emprestava a todas as coisas uma aparência harmoniosa, escondendo de si mesma qualquer insatisfação, espanto, questionamento. Vivia sua vida, suas rotinas, anonimamente, resignadamente, sem ter felicidade instável e insuportável e sem correr riscos. Porém, nas horas perigosas, na rotina quebrada pelo percurso do bonde ao ver o cego, o mal se fez e a CRISE trouxe um prazer intenso com que olhava as coisas agora, sofrendo espantada....

- A vida que descobrira continuava a pulsar e um vento morno e misterioso rodeava-lhe o rosto, a vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua respiração – ela adormecia dentro de si. Pertencia a parte forte do mundo. (Sentiu prazer, paz, culpa)
- A piedade pelo cego era tão violenta como uma ânsia, mas o mundo lhe parecia seu, sujo, perecível. (Perdeu o rumo, não sabia o que fazer com aqueles sentimentos)
- Por um instante a vida sadia q levava até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver. (injusto)
- Dias forjados haviam rompido.
- Não havia como fugir – seu coração se enchera com a pior vontade de viver.
- Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou espantada. (despertar)
- Ana fazia tudo de modo q um dia se seguisse ao outro. (Resignada em sua segurança)
- Por um momento não conseguia orientar-se. (ao descer do bonde, perdeu o rumo em pensamentos)
- Como a repulsa que precedesse uma entrega – era fascinante, a mulher tinha nojo e era fascinante. (a verdade/ a felicidade/ a indignação/ lhe davam nojo e prazer)
- Uma noite em que a piedade era tão crua como o amor ruim. (como água de mar sem sal)
- Cansados do dia, felizes em não discordar, tão dispostos a não ver defeitos. (aceitação de uma vida morna)
- E como a uma borboleta, Ana prendeu o instante entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu. (com fragilidade, mas, intensamente, Ana vivenciou aquele instante)
- O que o cego desencadeara caberia nos seus dias? Quantos anos levaria até envelhecer de novo? (algo mudara dentro dela, mas, a rotina a colocaria novamente em trilhos “seguros”)
- O marido, segurou a mão da mulher, levando-a consigo, sem olhar para trás, afastando-a do perigo de viver. (gesto imprevisível ou não notado em outra circunstância)
- Atravessara o amor e o inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. (VAZIA) Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia. (para no dia seguinte, voltar a sua rotina anônima)

Ivânia Garcia

POESIA DE PATATIVA DO ASSARÉ

Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrer
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome, pergunto o que há?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará.

POESIA DE CORDEL DE PAULO GONDIM 18.01.2002

Enfim, a chuva chegou
Muitos sonhos
renovou
Fez a vida renascer
A vida quase esquecida
Dessa gente desvalida
Que nunca deixa o sertão
Mesmo sabendo da luta
Da vil e cruel labuta
Por um pedaço de pão

E o sol se esquivou
E dessa vez não queimou
O meu sofrido torrão
E água muita correu
A tudo depressa encheu
O sertão virou um mar!
Todo orgulhoso, sorriu
Assim como nunca viu
Tanta vida festejar

Mas a sorte aqui não muda
É cruel, feia e desnuda
É pura desolação
E no sertão é assim
Sem chuva, a seca ruim
Assola bichos e sonhos
Desalojando essa gente
Num castigar iminente
Em desalentos medonhos

E desta vez foi a chuva
Como a praga da saúva
Que tudo come sem dó
Tirou o sol do caminho
Acabou tudo igualzinho
Como o sol da outra vez
Levou tudo pela frente
Na estrondosa corrente
Destruindo o que se fez

Pois é assim no sertão
Tudo é sim ou tudo é não
Não há jeito nem saída
Quando o sol não lhe castiga
É a chuva por intriga
Que vem tudo devastar
Expulsa o pobre oprimido
De seu lugar tão querido
Para nunca mais voltar

E o sertanejo pergunta
Na dor que ao pranto se junta
Será que a sorte não muda?
Quando o sol lhe queima o rosto
Ou muita chuva é desgosto
Nunca sabe o que é melhor
Como já disse o “Patativa”
“Seca sem chuva é ruim”
“Mas seca d’água é pior”


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