terça-feira, 28 de abril de 2009

CONFRARIA DA LEITURA: comentários de Rita Marquês

Comentários sobre o conto, de Lima Barreto,
“O HOMEM QUE SABIA JAVANÊS”


O conto de Lima Barreto que narra a história do homem que não sabia o javanês, embora tendo sua primeira publicação há quase um século, remete-me às questões éticas bastante atuais.

Castelo, personagem que se faz passar como sendo conhecedor da língua de Java, bebendo cerveja com seu amigo Castro, numa confeitaria do Rio, conta-lhe de suas peripécias para ganhar o próprio sustento.

O amigo declara-se admirado das suas histórias e assim o anima a pedir mais cerveja. Enquanto bebem, Castelo revela a Castro os segredos, ou melhor, o segredo de sua ascensão social.

Parece que ambos compartilham da opinião de que vivem num “Brasil imbecil e burocrático”. As palavras são de Castro, mas as atitudes consoantes são de Castelo.

Este, tendo vivido um período de grande dificuldade financeira, quando trocava de pensão constantemente, fugindo dos proprietários a quem era devedor, tornara-se por fim, um cônsul brasileiro.
A peripécia para tanto êxito deu-se também com uma boa dose de sorte que mesmo os homens desonestos a atraem, como também pelo exercício de sua gatunice.

Castelo não era um homem iletrado. Ele próprio cita, para Castro, que em Manaus, escondia a sua condição de bacharel para obter mais confiança de seus clientes.

Este fato provoca algumas indagações: que tipo de bacharelado Castelo poderia exercer? Por que não o exercia? Por que, aos clientes, se tornaria mais confiável, escondendo esta condição?

Bem, tratando-se de Lima Barreto, crítico contumaz da burocracia e política vigente de sua época, penso que pode ser apenas um detalhe para mostrar, com sua literatura, que a cultura oficial carecia de credibilidade.

Mas, voltando à história, conhecemos um Castelo que sabe “levar vantagem em tudo”. Não tem escrúpulo para as suas mentiras e os modos pelos quais quer conseguir “se dar bem na vida”.
E se de fato ele o consegue não são apenas por sua audácia e “presença de espírito” nas diversas situações incômodas e arriscadas.

E foi assim: não conseguindo fugir da cobrança do dono da pensão, desculpou-se, dizendo que em breve seria nomeado professor de javanês... Vendo que o dono ficara tão encantado, a ponto de esquecer-se da cobrança que lhe fazia, Castelo animou-se, definitivamente, com a idéia de se passar por professor de javanês e foi atender a um anúncio de jornal.

O sentimento de Castelo ao encantamento do dono da pensão pelo seu suposto ofício de professor de javanês é bastante sintomático dos que ridicularizam aos que demonstram boa fé. Pois ele conta ao amigo este detalhe, ironicamente, dizendo: -“Oh! alma ingênua!...”.

E Castelo é favorecido, sempre, pelas “almas ingênuas”. Estas lhe concedem fama e heranças indevidas. Por isso, podemos considerar, aqui, as “almas ingênuas” como sinônimo de estupidez e incompetência dos que detêm algum poder.

O pretendente a aluno de javanês não tem o menor interesse pela língua. Ele também é uma fraude. É a supertição que o torna aluno, e, quando dissipados os presságios de mau agouro por desconhecer a língua, não quer mesmo se dar ao trabalho de aprendê-la. Contribui, assim, para o sucesso da infâmia de Castelo, como torna-se vítima da sua própria estupidez.

“O Homem que sabia javanês” é uma denúncia muito pertinente aos nossos dias.
E que lástima!
Lima Barreto mostra-nos como verdadeiros bacharéis podem ser charlatões, admirados, não admiráveis, mas, respeitados e muito bem remunerados.

Aliás, nem precisam usar de seu dinheiro e tempo (trabalho/ estudo) como sucedeu a Castelo no conto.

Denuncia, também, que sempre que houver uma “alma ingênua”, haverá um esperto. Eu diria, sempre que houver pessoa, grupo, ou sociedade dormecida, muito ocupada ou distraída, haverá um ou mais larápios a aviltarem parte de suas vidas, que como Castelo, isentar-se-á de remorsos com muita facilidade .

Assim acontece hoje.

No cotidiano de nossas vidas experimentamos estas mazelas, como na política, com os inumeráveis escândalos e em tantos outros serviços de ordem pública, onde são acolhidos e respeitados muitos “Castelos”, como o de nosso querido Lima Barreto.

O conto nos remete a muitas reflexões, que fica difícil esboçá-las aqui. Creio que a questão primordial é cultural.

Custa-me crer que os que se passam por “almas ingênuas” e até se submetem a situações vexatórias, muitas vezes encobertas, eternamente, pela névoa dos códigos de condutas sociais, viabilizando os tantos trapaceiros que usurpam a sociedade, não se apercebam como vítimas de seu próprio alvitramento, além de algozes de uma ou mais geração de pessoas.

No “O homem que sabia javanês” as “almas ingênuas” são indivíduos.
Porém, muitos heróis sem-caráter são legitimados por grupos, isto é, por “uma grande alma ingênua”.
E certo é que cada um de nós pode ser parte constituinte desta “grande alma”.
E até quando nos permitiremos ser ingênuos?

Para : Confraria da Leitura de abril/09
De: Rita Marques

POESIA DE PATATIVA DO ASSARÉ

Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrer
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome, pergunto o que há?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará.

POESIA DE CORDEL DE PAULO GONDIM 18.01.2002

Enfim, a chuva chegou
Muitos sonhos
renovou
Fez a vida renascer
A vida quase esquecida
Dessa gente desvalida
Que nunca deixa o sertão
Mesmo sabendo da luta
Da vil e cruel labuta
Por um pedaço de pão

E o sol se esquivou
E dessa vez não queimou
O meu sofrido torrão
E água muita correu
A tudo depressa encheu
O sertão virou um mar!
Todo orgulhoso, sorriu
Assim como nunca viu
Tanta vida festejar

Mas a sorte aqui não muda
É cruel, feia e desnuda
É pura desolação
E no sertão é assim
Sem chuva, a seca ruim
Assola bichos e sonhos
Desalojando essa gente
Num castigar iminente
Em desalentos medonhos

E desta vez foi a chuva
Como a praga da saúva
Que tudo come sem dó
Tirou o sol do caminho
Acabou tudo igualzinho
Como o sol da outra vez
Levou tudo pela frente
Na estrondosa corrente
Destruindo o que se fez

Pois é assim no sertão
Tudo é sim ou tudo é não
Não há jeito nem saída
Quando o sol não lhe castiga
É a chuva por intriga
Que vem tudo devastar
Expulsa o pobre oprimido
De seu lugar tão querido
Para nunca mais voltar

E o sertanejo pergunta
Na dor que ao pranto se junta
Será que a sorte não muda?
Quando o sol lhe queima o rosto
Ou muita chuva é desgosto
Nunca sabe o que é melhor
Como já disse o “Patativa”
“Seca sem chuva é ruim”
“Mas seca d’água é pior”


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